Assembléia do Rio Grande do Sul lança “Carta Gaúcha” em defesa da Ferrosul

Presidente da Ferroeste afirmou nesta quinta-feira (3) que Ferrosul é parte do movimento de integração iniciado pelo tropeirismo no século 18
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03/12/2009 - 19:40
Editoria
A criação da Ferrosul foi tema de audiência pública nesta quinta-feira (3) na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O encontro serviu para sistematizar as discussões realizadas no interior gaúcho sobre o projeto da nova ferrovia, que seria criada a partir da Ferroeste, sob a égide do Codesul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul). Na audiência foi apresentado o relatório final da Comissão de Representação Externa da Assembléia gaúcha para debater a implantação da Ferrosul, coordenada pelo deputado Jerônimo Goergen (PP) e aprovada a “Carta gaúcha em defesa da ferrovia pública da integração do Sul do Brasil – Ferrosul”. No próximo dia 16 de dezembro, deputados do Rio Grande do Sul, em conjunto com lideranças empresariais gaúchas, farão a entrega destes e de outros documentos sobre a criação da Ferrosul, ao governador Roberto Requião, em Curitiba. O presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, afirmou aos participantes que o projeto “é um conjunto de ferrovias e sistemas logísticos cuja construção se pagará com a própria operação”. Segundo ele este é um projeto “necessário e viável” para interligar os quatro estados do Codesul com o restante do País, portos da região Sul e parte da América do Sul. “É entusiasmante a mobilização que a idéia de criação da Ferrosul gerou no Estado”, disse ele, “o povo gaúcho está hoje na liderança deste processo de integração”. AUDIÊNCIA A audiência foi promovida pela presidência do parlamento gaúcho e pela Comissão Ferrosul. Para o presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, Ivar Pavan, o projeto tem como principal objetivo diminuir custos no transporte de cargas da região e desafogar as rodovias do Sul do Brasil. “Somos uma região produtora, exportadora e também importadora de muitos produtos, e se o transporte dessas mercadorias for feito por via férrea, o custo se reduzirá drasticamente, dando melhores condições para que esta região possa se desenvolver”, ressaltou Pavan. O deputado Jerônimo Goergen disse que o relatório da Comissão Ferrosul recebeu a contribuição de sugestões apresentadas em audiências públicas realizadas em 20 municípios gaúchos. As audiências, segundo ele, reforçam “a necessidade de implantação da ferrovia que chega para ampliar o sistema de logística” de seu Estado. CARTA GAÚCHA A Carta Gaúcha em defesa da ferrovia pública e da integração do Sul do Brasil através da Ferrosul afirma a “firme disposição de contar com um moderno caminho de ferro, que venha a se constituir na efetiva ligação do Brasil, de Norte a Sul, como forma inequívoca de integração e desenvolvimento econômico, social e ambiental da Nação”. Segundo o documento, ficou comprovado que a implantação “de uma nova malha ferroviária” unindo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul “é um desejo das populações de cada um desses Estados”. A Carta registra “admiração pelo que o Estado do Paraná fez, tomando a frente do investimento nos trilhos (Ferroeste), enquanto nada se fazia no Brasil”. Segundo o documento “houve visão, ousadia e ação” e o “Paraná não pensou duas vezes ao investir algo em torno de 363 milhões de dólares na construção do primeiro trecho da ferrovia, entre Guarapuava e Cascavel, obra que está paga e em operação e que é base para o projeto de integração do interior do Sul do Brasil com os seus portos, com o País e o continente Latino Americano”. Entre as propostas da Carta consta que seja criado um grupo composto por Fiergs (Federação das Indústrias, Famurs (Federação das Associações dos Municípios do RS), Uvergs (União dos Vereadores do RS) e Ministério Público, além de outras entidades e órgãos públicos, para acompanhar o trabalho dos técnicos do Codesul e que o Governo Federal inclua nos seus projetos de desenvolvimento a criação da Ferrosul. O documento também pede que seja garantida com custos menores tanto o transporte de cargas quanto de passageiros. Gomes adianta que o transporte de passageiros, pelo projeto da nova ferrovia, poderá ser feito em velocidades superiores a 120 quilômetros por hora. Participaram do encontro, em Porto Alegre, os deputados Ivar Pavan (PT), Jerônimo Goergen (PP), Zilá Breitenbach (PSDB), Adroaldo Loureiro (PDT), Gilberto Capoani (PMDB), Fabiano Pereira (PT) e o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, entre outros representantes BOX Ferrosul é parte do movimento de integração de Estados do Sul iniciado com o tropeirismo Samuel Gomes considera que a criação da Ferrosul “é uma proposta que retoma o fio da história como a versão logística moderna do ancestral movimento econômico e cultural que integra os povos do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul”. Gomes lembra que depois da ocupação do primeiro planalto de Curitiba (século 17) e Campos Gerais (século 18 houve) os tropeiros paranaenses, paulistas e portugueses, através da estrada das tropas ou Caminho do Viamão, e outros, chegaram aos campos de Vacaria, “e daí infletiram para o Oeste até atingir o planalto médio gaúcho”, diz Gomes. O movimento se repetiu nas primeiras décadas do século 19 – continua – quando os paranaenses das regiões de Palmas e Guarapuava abriram o novo caminho das missões que unia Guarapuava a Nonoai (RS), no Norte do Rio Grande do Sul. No século 20, segundo Gomes, com o desenvolvimento da agricultura, o caminho se inverteu e os gaúchos ocuparam o Oeste catarinense, Sudoeste e Oeste Paranaense, chegando ao Mato Grosso do Sul. “A Ferroeste, informa, foi criada por estas populações que viram a necessidade de uma ferrovia”. “O movimento pela criação da Ferrosul alimenta-se deste caudal histórico iniciado pelo tropeirismo e que gerou uma integração econômica e uma identidade cultural que une as populações do Sul do Brasil”, conclui Gomes.

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