Arquivo Público retoma ações ligadas à história do Paraná

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Publicação
07/04/2003 - 00:00
Editoria
Depois de anos dedicados apenas à gestão de documentos gerados pelo governo, o Departamento Estadual de Arquivo Público vai retomar as ações ligadas à história do Paraná. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (7) pelo secretário da Administração e da Previdência do Paraná, Reinhold Stephanes, na solenidade de abertura da exposição que marca os 148 anos da instituição. “O Arquivo Público não pode se limitar apenas ao gerenciamento dos documentos produzidos pelo governo do Estado”, afirmou o secretário Reinhold Stephanes. Para ele, além de preservar documentos do Executivo estadual, a instituição tem que exercer a função estratégica de estimular a pesquisa sobre o Paraná. A mostra comemorativa ao aniversário do arquivo fica aberta ao público apenas até sexta-feira (11). A nova diretora da instituição, Daysi Lúcia Ramos de Andrade, já está em contato com as universidades e historiadores para retomar os relacionamentos e parcerias de estímulo à produção paranaense de pesquisas históricas sobre o Estado. Projetos - A diretora revelou que está discutindo projetos que devem envolver as universidades em novos estudos sobre o acervo. “O arquivo, cumprindo seu papel de guardar a memória, e as universidades, com sua tarefa de analisar a memória, devem trabalhar de forma integrada”, concordou a historiadora Marionilde Magalhães, professora da UFPR que já participa do processo de reaproximação. Entre as parcerias que já estão sendo discutidas, a diretora do Arquivo Público comenta que existe a possibilidade de atuação conjunta para aprofundar as pesquisas que professores e estudantes devem fazer sobre as pastas temáticas da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). “Essas pastas são o último grande acervo conquistado pelo arquivo durante o primeiro mandato do governador Roberto Requião”, destaca o secretário Reinhold Stephanes. Foi com o decreto 577, de 1.990, que o governador extinguiu a delegacia e encaminhou os relatórios da polícia política para o Arquivo Público. Formada em História e funcionária da instituição, Daysi destacou que, como 2.004 marca os 40 anos da instauração da ditadura militar, o ano será dedicado ao resgate da atuação dessa e de outras polícias políticas no Paraná. O plano de trabalho da nova diretoria inclui a realização de eventos e de publicações científicas. Para a gestão de documentos, serão desenvolvidas ações práticas para que as secretarias analisem e selecionem os documentos que devem ser eliminados ou encaminhados para o Arquivo Público. Com uma equipe de dez profissionais, o prédio da instituição conta com auditório, áreas para exposição, microfilmagem e depósitos (subsolo, primeiro e segundo andares são salas para depósito). Estrutura física e humana são aproveitadas em espaços e atividades para consultas, restauro, conservação e área administrativa. Box Requião, Stephanes e Che Guevara foram fichados pela Dops do Paraná O governador Roberto Requião, o secretário da Administração e da Previdência do Paraná, Reinhold Stephanes e o ativista latino-americano Che Guevara são algumas das personalidades que estão cadastradas entre as 60 mil fichas da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops). A delegacia passou duas décadas alimentando, com dados fornecidos por informantes da polícia política, criada pela ditadura militar que se arrastou de 31 de março de 1.964 até os anos 80. A delegacia - que Requião extinguiu em 1.990, durante o seu primeiro mandato como governador do Paraná – contou com a ficha número 41.208 para registrar em cerca de 20 páginas os 16 anos de manifestações contrárias ao regime e em defesa da liberdade política. Na pasta de Che Guevara, estão registros de testemunhas dando conta de sua passagem pelo Paraná com o disfarce de monge. No caso de Stephanes, a única página da ficha 43.312 quase o impediu de assumir o Ministério da Previdência Social durante o governo militar de Ernesto Geisel, nos anos 70. “O nome do fichado consta da relação dos indivíduos que estiveram ligados, integraram ou atuaram na União Nacional dos Estantes em época anterior a 31 de março de 1.964”: foi o que informou a Dops paranaense ao Sistema Nacional de Informações (SNI), em 1.973, quando Stephanes foi investigado por aceitar o convite para o cargo em Brasília. Mais extensa, a ficha do governador Roberto Requião o define como um dos líderes do movimento estudantil que protestou contra o regime militar. Inclui as datas em que publicou artigos, participou de reuniões e congressos de estudantes. Registra que em 1o de abril de 1.964, Requião já se manifestava contra a revolução militar. Os dados sobre Requião revelam ainda que em 1.965, no XXI Congresso Estadual dos Estudantes, pediu voto de repúdio à revolução militar e a colocação de luto na sede da União Paranaense dos Estudantes. Nos dados sobre os anos 80, o informante que acompanhava Requião fez relatórios freqüentes sobre as reuniões no PMDB, com movimentos de trabalhadores e associações de bairros, e na defesa de ato público em favor da Assembléia Constituinte.