Arquivo Público forma acervo com vídeo dos perseguidos pela ditadura

É o resultado de uma parceria do Arquivo e o Grupo Tortura Nunca Mais, que lançaram nesta sexta-feira (30), em Curitiba, o projeto “Depoimentos para a história”
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30/05/2008 - 18:10
Editoria
O Arquivo Público (departamento da Secretaria da Administração) e o Grupo Tortura Nunca Mais lançaram nesta sexta-feira (30), em Curitiba, o projeto “Depoimentos para a história”. O objetivo é gravar, em áudio e vídeo, depoimentos de cidadãos que sofreram perseguição política e ideológica durante a ditadura militar (1964-1985). E é justamente na coleta de histórias das próprias pessoas em que está a importância do projeto: a de ampliar o acervo, hoje basicamente formado por dados oficiais (ou seja, dos órgãos de repressão), com informações das próprias vítimas do regime ditatorial. “Esse projeto é um marco, uma oportunidade de consolidação do Estado democrático”, declarou um dos coordenadores do Projeto Memorial da Anistia, do Ministério da Justiça, Eduardo Pazinato, que participou da solenidade de lançamento do “Depoimentos para a história”. “O Arquivo Público do Paraná e o Grupo Tortura Nunca Mais estão em sintonia com as ações do Ministério da Justiça que buscam resgatar os acontecimentos daquele período”, completou Pazinato. CONTRAPOSIÇÃO - O presidente, no Paraná, do Grupo Tortura Nunca Mais, Narciso Pires, agradeceu e elogiou o Arquivo Público pela disposição em se integrar plenamente ao “Depoimentos para a história”. “Não se trata apenas de uma coleta de depoimentos. É a construção de um acervo que se contrapõe ao acervo que se tem hoje, que é formado por dados e informações oficiais, da repressão.” Narciso Pires, em sua fala na solenidade, fez questão de nomear dezenas de companheiros de luta, presentes ali no evento de lançamento do projeto, e cujas histórias servem de exemplo. “São pessoas que lutaram para que o país se tornasse não só livre e democrático, mas também mais igualitário, solidário, fraterno.” “MALUCO” - Entre então estudantes nos anos 60, sindicalistas, líderes partidários, intelectuais e acadêmicos, esteve no Arquivo Público nesta sexta-feira o atualmente aposentado Arlindo Padilha, 65 anos, que foi capturado pela repressão e internado “como maluco” no hospital psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, em Curitiba, em 1964. O motivo, explica Padilha – que na época, conforme ele conta, era conhecido como o “escritor operário” – foi sua participação na Teologia da Libertação (da Igreja Católica) e a autoria de 20 livros enfatizando temáticas sociais. “O Brasil pertence aos negros” é o título de uma de suas obras classificadas como “subversivas”. “Fiquei internado, por um mês, sem que minha família soubesse. Levava choques terríveis, a ponto de perder a memória - fiquei quase 20 anos com amnésia, só fui me recuperar em 1990. Não tive paz”, narra e descreve Padilha, que se prontificou a gravar seu depoimento no projeto do Arquivo Público e do Tortura Nunca Mais. “Tem que gravar sim, porque essas histórias não podem se perder, não podem ser esquecidas”, afirma.

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