Aneel autoriza Copel a seguir experiência com biodigestores


Empresa paranaense está avaliando sistema de geração elétrica a partir de dejetos suínos
Publicação
30/07/2008 - 18:10
Editoria
Um projeto pioneiro no país para a geração descentralizada de energia elétrica em biodigestores a partir de dejetos animais acaba de receber da Aneel, a agência reguladora do setor, sinal verde para implementação dos protótipos. O propósito da experiência - que integra parceria da Copel, Sanepar e Itaipu Binacional - é estudar a viabilidade técnica e econômica de implantação de biodigestores em propriedades rurais dedicadas à suinocultura para, com o gás metano produzido pela decomposição da matéria orgânica coletada, produzir eletricidade para consumo na própria instalação e, até, para venda do excedente à distribuidora local dos serviços. O projeto está sendo desenvolvido e monitorado há cerca de um ano numa granja em São Miguel do Iguaçu, na região de Foz do Iguaçu, e seu sucesso poderá significar um triplo benefício, segundo o superintendente da área de energias renováveis da Copel, Francisco José Alves de Oliveira. “Para os suinocultores, a geração de eletricidade em biodigestores seria uma fonte de receita adicional na sua atividade, enquanto a Copel teria reforçadas as suas disponibilidades de energia para atendimento ao mercado”, afirma o superintendente. “Mas o grande beneficiado seria o equilíbrio do meio ambiente, pois o aproveitamento dos dejetos animais em câmaras biodigestoras vai evitar que esse material acabe sendo carreado para os rios, lagos e reservatórios e altere as propriedades da água, facilitando a proliferação de algas e de outros microorganismos nocivos à saúde”. Nutriente O principal problema ambiental decorrente da criação de suínos é que seus dejetos são muito ricos em fósforo, que vem a ser justamente o principal nutriente das chamadas “algas azuis”, um tipo de floração que contamina e deteriora a água e que pode, se ingerida ou mesmo pelo contato, causar sérios problemas à saúde de pessoas e de animais. Para diminuir ou até eliminar esse problema, a alternativa mais lógica é evitar que tais resíduos cheguem aos cursos d’água. E isso pode ser feito de forma eficiente e produtiva mantendo esse material orgânico enclausurado, confinado em câmaras de biodigestão, onde ele se decompõe produzindo metano. Esse gás, altamente combustível, pode ser usado para aquecer água, produzir vapor e movimentar um gerador de eletricidade. No caso da propriedade onde estão sendo conduzidos os ensaios, a potência disponível para geração de eletricidade é de 50 quilowatts – o suficiente para gerar energia para uso de 100 domicílios residenciais com padrão médio de consumo. Segurança Os projetos de geração descentralizada no meio rural historicamente esbarravam num sério problema de ordem operacional e de segurança: a geração em paralelo com as redes de distribuição da concessionária exporia os eletricistas ao risco de grandes acidentes, pois a empresa perderia completamente o controle sobre o fluxo de energia elétrica em suas instalações. “Não haveria como fazer um reparo na rede elétrica em segurança se, de repente, alguém injetasse tensão numa linha que deveria estar desligada”, argumenta o superintendente de energias alternativas da Copel. E esse vem sendo o principal trabalho das equipes de técnicos e engenheiros da Companhia que participam do projeto: desenvolver um sistema ao menor custo possível capaz de gerar energia elétrica com segurança para o produtor rural e também para os eletricistas e demais encarregados de operar e manter as redes de distribuição. Para que possam estar conectados às redes da empresa distribuidora, essas unidades de geração distribuída, normalmente de baixa potência, requerem alguns cuidados especiais quanto à sua proteção elétrica e segurança – semelhantes aos sistemas e dispositivos que são instalados nas grandes usinas geradoras. Liderança A Copel se adiantou e está liderando o assunto em âmbito nacional, pois além do seu compromisso com a sustentabilidade e com a proteção do meio ambiente, a empresa tem como diretriz no seu planejamento estratégico a diversificação da matriz energética, incentivando o aproveitamento de fontes que sejam naturais, limpas e renováveis. “Esse projeto tem como principais virtudes a proposta de solução para um grave problema ambiental que é a poluição dos rios e, também, gerar renda para o pequeno produtor”, avalia Luiz Antonio Rossafa, diretor de engenharia da Copel. “Só uma empresa comprometida com o interesse público e disposta a avançar nas questões sócio-ambientais poderia investir tempo e dinheiro num projeto como esse”, explica. Em conjunto, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentram 45% do rebanho brasileiro de suínos, segundo mostra a pesquisa Pecuária Municipal 2006, divulgada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em todo o país, são abatidos quase 40 milhões de suínos anualmente, o que serve para oferecer uma dimensão do problema ambiental causado pela destinação incorreta dos dejetos e o potencial existente para que toda essa matéria orgânica possa ser transformada em energia elétrica. O projeto Para chegar ao protótipo instalado na Granja Colombari, região de Foz do Iguaçu, a Copel investiu em ensaios de campo, de laboratório e tecnologia sofisticada de estudos elétricos para garantir que a solução proposta de conexão dos micro-geradores à rede da empresa não resulte em problemas, mas que constitua uma solução. A partir dos dejetos dos 3 mil suínos mantidos na granja, a operação do gerador é monitorada por um oscilógrafo – equipamento que registra todos os fenômenos que ocorrerão nesta etapa de operação experimental do projeto, que prevê o auto-suprimento e a injeção do excedente da energia na rede. A geração a partir dos biodigestores se diferencia da queima de biomassa, visto que nela há a presença de bactérias na decomposição dos dejetos (processo anaeróbico). Desde o início do ano, essa instalação vem sendo submetida a ensaios de campo com acompanhamento de técnicos da Copel, e os resultados obtidos têm sido bastante satisfatórios. “Há muitas questões ainda a serem definidas e uma das principais é a sustentabilidade do projeto”, observa o superintendente de energias renováveis da Copel. “Essa viabilidade não se limita apenas ao aspecto econômico, visto que a própria regulamentação do setor elétrico impõe algum tipo de restrição à iniciativa”. A intenção da Copel é futuramente levar uma proposta mais ampla às autoridades federais e aos agentes reguladores para que sejam removidos os obstáculos existentes e, adicionalmente, sejam criados mecanismos ou mesmo um programa nacional que incentive a geração distribuída no país.

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