América Latina vive enfraquecimento da democracia representativa, diz educadora Argentina

Graciela Hopstein foi a palestrante desta quarta-feira (26), em Curitiba, no quarto encontro do Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas para a América Latina
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26/09/2007 - 18:24
Editoria
O enfraquecimento da democracia representativa tem propiciado uma nova dinâmica aos movimentos culturais, sociais e políticos nos países latino-americanos, de acordo com a opinião da educadora Graciela Hopstein. Ela foi a palestrante desta quarta-feira (26), em Curitiba, no quarto encontro do Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas para a América Latina, promovido pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Sanepar e Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o apoio da Caixa Econômica Federal, BRDE e Codesul. “Os novos movimentos criam impacto porque a democracia representativa está em crise, ela tem que se transformar e incluir as reivindicações destes movimentos dentro de suas agendas políticas”, afirmou Graciela. Ela exemplificou com o surgimento dos movimentos piqueteiros e de empresas recuperadas na Argentina, surgidos com a crise dos anos 90. Mesmo afirmando que as democracias representativas estão em crise, Graciela não acredita em novas ditaduras. “A estratégia do medo não tem mais cabimento. Quando o presidente argentino decretou estado de sítio para conter as ondas de saque durante a crise de 2001, as pessoas foram às ruas fazer panelaço empunhando a seguinte frase: “Que todo mundo vá embora e não fique ninguém”, lembrou. O tema da palestra de Graciela foi “Movimentos e políticas públicas de cultura: novas dinâmicas, desafios e perspectivas”. Ela é doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Laboratório de Políticas Públicas vinculado à UFRJ. Graciela disse que os movimentos culturais possuem novas formas de gestão, comunicação e de lutas. “Os movimentos estão vinculados a uma base territorial muito forte, ligados a questões locais, mas com visibilidade global”, salientou. A educadora explica que antigamente os movimentos sociais estavam centralizados na luta travada no mercado de trabalho, que tinham nos sindicatos o grande reator da política e o Estado era o mediador do conflito entre patrões e empregados. A crise do mercado de trabalho fez com que não se tenha mais a classe operária como o sujeito principal. Hoje se tem um novo sujeito político que não está integrado na sociedade via trabalho, foram expulsos dos grandes centros ou mesmo vivendo neles nunca tiveram acesso à cidadania. Na visão de Graciela, os movimentos culturais não estão mais centralizados nas respostas do Estado, que tem se mostrado ineficaz na distribuição de políticas públicas. Eles tentam dar soluções aos problemas. São organizações autogeridas que buscam alternativas de trabalho. “Eles se expressam criando uma nova comunicação com linguagens e sentidos próprios”, descreve. Ela cita como exemplos no Brasil, o Hip Hop, o Funk e Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “O Hip Hop é um movimento cultural que tenta ocupar o espaço público da cidade em expressões como a música e o grafite. Ele tem uma base local e surge nos grandes centros urbanos, formado por jovens que já nasceram excluídos da cidadania, que sofrem violência policial, discriminação racial e ao mesmo tempo produz”, cita Graciela. “O movimento Hip Hop conseguiu de alguma forma fazer um ruído que começa a mudar uma pauta política. Isto é feito não se pensando num esquema tradicional de luta e conquista. O Hip Hop conseguiu o reconhecimento da entidade incluindo discussões sobre o racismo e o direito das populações negras, que ficaram historicamente excluídas. Um reflexo disto foi a criação de uma Secretaria especial para tratar de assuntos raciais”, pontua Graciela. Conforme aponta Graciela, estes novos movimentos tentam combater a exclusão integrando jovens com atividades culturais. Ela cita que eles têm experiências que considera “muito interessantes” como o Afro Regae no Morro do Vidigal, a Central Única das Favelas na Cidade de Deus. “Eles oferecem cursos, alternativas culturais, esportes e rádios comunitárias, tentando tirar os jovens do trafico”. A repercussão das mobilizações culturais é nítida em um programa do Governo Federal, chamado Cultura Viva, segundo Graciela. Para ela, é uma política que tenta trazer os movimentos pra dentro. O Governo injeta recursos, rede, equipamentos para que em troca, os movimentos tenham sustentação e fôlego para suas atividades.